quinta-feira, dezembro 18, 2008

Não-te-Esqueças-de-Mim


Eu adoro as flores, sobretudo por causa das cores e dos cheiros. Aí eu coloco flores nos cabelos, tiro fotos com elas, coloco-as nos vasos e aguardo ansiosamente por ganhar uma roubada da beira de uma estrada ou de um jardim especialmente para mim. Não, não preciso ganhar um buquê de rosas, não. Nem de flores do campo. Mas se alguém pegou uma margaridinha e lembrou de mim... ui, me ganhou.

Mas enfim, abri esse tópico não para falar das flores e de como as aprecio, mas de uma específica, pequenina e que dá em cachinhos lindos. A cor predominante é a minha predileta: o azul (Sim, porque mamãe não achava que azul era cor de menino e decorou meu quarto de bebê dessa corzinha). Descobriram qual essa florzinha? Bem, a foto denuncia: são os miosótis. Não, não sou uma profunda conhecedora de plantas, não. Nem sou botânica, nem paisagista, nem aspirante a nenhuma das duas coisas. Mas acontece que sou uma típica sonhadora, e no dia que li a lenda dessas flores tão lindinhas, apaixonei. Li um livro onde a mocinha cuidava de miosótis em Londres (des-cul-pa) e fiquei roxa para ter um jardim assim. Aí eu fui atrás de ver que raios de flores eram essas que se chamavam "miosótis". Gente, fiquei boba. Como é que pode o nome popular de uma flor ser “Não-te-esqueças-de-mim”. Mais meloso, impossível. Mais sensível, impossível. Mais purinho, impossível. Mais Ariane, impossível. Aí você pergunta: e porque diabos essa flor se chama "não-te-esqueças-de-mim"? Atenção se você é uma pessoa diabética sentimental, não leia a seguir. Vai pôr sua conta em risco? Então, tá.

Bem, há controvérsias. As flores miosótis, também conhecidas como “não se esqueça de mim” ou ”não me esqueças” em várias línguas, "non-ti-scordar-di-me", na Itália, "forget-me-not" na língua inglesa, etc, têm várias histórias. Mas uma das mais conhecidas é a versão de uma antiga lenda alemã que diz mais ou menos assim:

Disse que o amor bateu na porta de uma menina sonhadora e ela conheceu o mais lindo dos cavaleiros. Aos olhos dessa menina, a armadura dele era a mais reluzente e o cavalo o mais imponente e branco. Disse também que eles caíram de amores um pelo outro e que todas as tardes saíam, então, a caminhar pelas margens de um rio (pois os rios sussurram amores nos ouvidos dos apaixonados).

Vinham falando juras de amor e conversando sobre a vida, o futuro e trocando os olhares que só os que já amaram sabem bem o que significa, quando o rapaz avista um raminho delicado de flores azuis pequeninas flutuando nas águas do rio. Como prova de amor (que tolice, quem precisa dessas provas de amor?) ele resolveu presentear a mocinha com aquela florzinha delicada e pura (que nem o amor dos dois).

Ao tentar alcançar as flores, o peso da armadura o derrubou na água e a correnteza levou-o para longe da amada. Reza a lenda que quando o imponente cavaleiro foi arrastado pelas águas, ele ainda conseguiu gritar para a moça: "Não me esqueças! Ama-me para sempre". Desde então, os miosótis floresceram sempre nas margens dos rios e as flores ficaram conhecidas como “não-me-esqueças”.

*Chorando litros*. Sim, eu aprecio lendas melosas de amor. Sim, a lenda é triste pra caramba. Sim, também me pergunto como o cavaleiro viu o raminho de flores se a correnteza estava tão forte que o levou com armadura e tudo. Mas eu digo é igual ao Renato Russo ao cantar “Hoje a noite não tem luar”: Ela não é bonitinha?


“Hoje a noite não tem luar

E eu estou sem ela

Já não sei onde procurar

Não sei onde ela está.”

terça-feira, novembro 18, 2008

Dos medos


Fazendo a Regina Duarte: eu tenho medo.

É, tenho medo sim. Medo de ficar no escuro sozinha. Medo de aranha. Medo de cobra. Me-do. Um montão deles. O tempo todo. Mas e daí? Todo mundo tem medo. E mesmo que você se faça de corajosa pro mundo, por dentro sempre vai haver um temor a alguma coisa, a alguém, a alguma situação. Tá, para os outros você pode negar, se fazer de "Demolidor - o homem sem medo", mas tem medo, sim. Medo de ladrão, medo de inseto, medo de passar ridículo. Medo de amar, medo de se magoar, medo de tentar ou de não tentar e se arrepender. E esses medos é que nos bloqueiam e nos fazem parecer qualquer coisa menor que uma barata - quem tem medo dela? - às vezes.

Mas já dizia um escritor pelo qual tenho muito apreço: "o medo é um mecanismo de defesa para a manutenção da vida*". Enquanto o medo funciona só como freio para você pensar e repensar naquilo que você vai fazer, tudo certo. O problema é quando o medo te impede de viver.

Quando eu era criança - e não faz tanto tempo assim - eu não tinha só medo, tinha pânico. Mas não era a doença que traz esse nome, gracias, mas um pânico de algo que não sabia e não controlava. Medo de ficar só, no escuro, sem ninguém. Não conseguia tomar banho só, ficar no quarto só, estudar só, ficar só em casa. Nada só, nadinha. Aí um dia, na minha cabeça de criança, parei par ver que insano: eu tinha medo de quê? Será que era medo do próprio medo? Aí eu comecei a tentar me educar e tive ajuda dos meus singulares pais também mais uma série de ajudas e aí: puf! Eu era uma criança novinha em folha, pronta para dormir só no quarto. Tá, eu ainda hoje durmo com minha irmã no quarto, mas por um mero problema de espaço. Tá, tá, eu ainda acordo minha irmã de noite, às vezes, mas não é algo que atrapalhe minha vida, propriamente (talvez a noite dela, *risos*). Só é bom saber que alguém pode apertar minha mão, para variar.

Um dia sonhei que eu era criancinha e estava perdida e totalmente só no meio uma praça belíssima, em frente a uma igreja igualmente bela. Aconteceram algumas coisas no sonho, mas você só vão saber até aqui, hehe. O fato é que eu me toquei da profundidade que envolve nosso medos. É incrível como cada um dos nossos medos está enraizado na gente por laços emaranhados que envolvem centenas de coisas do ontem e do hoje. Mas o fato, também, é que estamos reencarnando e reencarnando e novamente reencarnando para nos libertamos de certas amarras que fincam nossos pés na matéria.

Afora tudo isso, hoje convivo bem com meus medos, mas tratando de não deixar que eles ultrapassem aquela linhazinha da razão. Uma dia me disseram que a gente precisa eliminar nossos medos. Não concordo, não. Superego é bom, de vez em quando. O negócio é saber aproveitar bem cada coisa. Até o medo.

*O autor é o meu pai, um dos seres mais inteligentes que já conheci.

"Medo, medo, medo, vai pra longe de mim
Meu destino eu mesmo vou fazer
E serei bem feliz
Trago a marca de quem me criou
E comigo tenho seu amor
Nada pode me deter no mal
Nem a noite escura, nem o temporal"
Marielza Tiscate

quarta-feira, novembro 12, 2008

Pequeno poema que não cresceu.


Mamãe disse que cresci.
peguei uma fita e me medi.
Ela confirmou: cresci!

Mas, como, se eu ainda nem esqueci
das manhã de domingo e dança?
Como? Como?
Se ainda trago dentro de mim
pequena, tímida e curiosa criança?


Se olho no espelho e...
Nossa! Me vi!
Realmente, eu cresci...

Tive medo ao me olhar.
Como é que se cresce só por fora?
Eu ainda uso lacinho!
E ainda quero ir embora!
Ainda preciso de proteção
e não entendo sobre bancos, contas, boletos.

Coisa chata é crescer.

Livre inspirado em "Recordo ainda", de Mario Quintana.

"Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!..."

sexta-feira, novembro 07, 2008

Contos bobos 1


Era uma vez uma mão vazia que pintava o céu. Pintava o infinito, metia as mãos da tinta e saía dando vida às coisas nos papéis que chegavam. Era sol, era gente, era bicho, era flor. Era giz-de-cera, canetinha, tinta melada na ponta dos dedos. Era cheia de cor, mas se achava vazia. De que adiantava, né, pintar e não ganhar nada por isso. Só alegria basta? Ela ouviu falar que se por ali passasse dinheiro, uau, ela iria pintar mais e melhor. E quem não quer melhorar? Foi a partir daí que ela, que amava se ver manchada, quis mudar. Porque se cortassem as unhas dela, oh God, ia ser a glória. Porque se pintassem e lichassem como deveriam fazer com toda mão decente, aí sim, isso seria vida. quem acha mão suja bonita, né? E se ela pegasse mais em dinheiro, em cartão de crédito, se dirigisse um volante de carro novinho, se vestisse luvas finas, ela seria afinal feliz. Aí ela começou a desenhar coisas sem cores, de grafite, planos chatos de arquitetos. Longe das estrelas e das cores. Aí quando menos esperou, haja dinheiro! Nossa, ela desenhava casas, gente. Meio chato, adquiriu uma LER com o tempo, mas, vá: era feliz, agora, pôxa. Mas faltava... faltava... ela não sabia mais o quê. De repente desenhar coisas com grafite não era a melhor coisa do mundo. E ter que usar aquelas réguas todas. Deu saudade das guaches. Dos pinguinhos de tinta que viravam borboletas e das artes loucas que davam vida a um brancão. Aí um dia ela derrubou tinta na casa de grafite (sem querer, ela jura). Aí ela foi com tudo num balde de tinta e desenhou um céu na parede do escritório. Foi a coisa mais feliz que uma mão azul pôde fazer. Aí demitiram ela da empresa e hoje ela vive de desenhar céus nas paredes dos outros. Interessa? Ela cobra baratinho, gente. Também, quem mandou querer ser independente? Sobraram as prestações do cartão de crédito. Bolas!

"Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver daonde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
e os meus passos
Nunca mais serão iguais

Se for mais veloz que a luz
Então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás
Perdida num planeta abandonado
Pelo espaço
E volto sem olhar pra trás
No escuro do céu
Mais longe que o sol
..."

sexta-feira, agosto 22, 2008

O tudo é uma coisa só


Ai, gente! Vamo abstrair? Hoje eu vou de música! E tem uma aqui que a gente baixa de grátis na Trama virtual (http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=6273) e que é música rara. Procês e pra mim, "O Tudo é uma coisa só", dos raros do "O Teatro Mágico":



"Tem hora que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Boneca, panela, chinelo, carro
O nó que eu desamarro surge pra me dar um nó
Você aparece de repente e coloca em minha frente a dúvida maior
Se tudo que eu preciso se parece,
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Tem hora que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Balaio... de domingo eu não saio
De bambu e corda... só se for pra rezar
Luz... no cabelo e nos olhos
No sorriso do justo feito pra iluminar

Cruz... na parede e no púlpito
Nas nossas costas de súbito
Pesadas pra se carregar
Porta... abre e fecha o caminho
O balaio eu carrego sozinho
E ilumino esta cruz com meu jeito de andar... porque...

Tem hora que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

"A gente fica meio... meio desencontrado do que a gente é... né?
... se abusá não dá nem tempo de aprendê as coisa..."

Mãe, primo, pai, avô, padrinho
Zelador, juiz, vizinho
Tio, cunhado, irmão, avó
Família é um assunto complicado
Quem não gosto mora ao lado e o mais velho mora só
Pois traga um colchão aqui pra sala
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Tem hora que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Poeta, ouvidor, desenhista, músico, malabarista...
Comediante o que for
Todo mundo procura um lugar, pra poder compartilhar...
Da dor e da alegria
Sarau em Arcoverde só de sexta venho aqui reivindicar
Eu quero isso todo dia
Sarau na Arcoverde só de sexta venho aqui reivindicar
Eu quero isso todo dia

"Para os manos daqui... para os manos de lá!"

Tem hora que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Católico, evangélico, budista, macumbeiro, corintiano
Espírita ou ateu
Todo mundo busca a paz interna, tâmo aqui pra ser lanterna
Foi assim que Ele escreveu
Palavras e palavras e palavras
E ainda acham que o deus do outro não pode ser meu

Tem horas que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Quando juntarmos você comigo...
Cordão umbilical e umbigo
A gente vai ser só um
E até lá eu não vou caminhar mais sozinho
O distante será meu vizinho
E o tempo será
A hora que eu quiser!!! Oras!!!

Tem horas que a gente se pergunta
Por que é que não se junta tudo numa coisa só?"

Quando juntarmos você comigo...
Cordão umbilical e umbigo
A gente vai ser só um
E até lá eu não vou caminhar mais sozinho
O distante será meu vizinho
E o tempo será
A hora que eu quiser!!! Oras!!!

segunda-feira, agosto 18, 2008

O filho que eu quero ter


Sorrisos de dentinhos de leite e passinhos pequenos e mãozinhas minúsculas. Palavrinhas ditas meio eladas, reflexões inusitadas, cabelinho fino, risadas fora de hora, cosquinhas. Choros no meio da noite e bracinhos que pedem proteção em um abraço.

Certo, há quem diga que criança dá muito trabalho e que Deus as livre de ser mães/ pais. Há quem diga não querer colocar mais um ser no mundo "para sofrer". Para sofrer? Não, não. É para ajudar, para ensinar a lutar, para ensinar a ser diferente, a fazer a diferença, a mudar centenas de coisas no mundo que muitos pais não souberam ensinar para os filhos na geração passada. É para abraçar, para se sentir responsável de verdade, para tentar ser melhor só para dar o exemplo. É dar a mão para caminhar junto e ajudar a dar os primeiros passos, no sentido literal e no figurado.

Acho que todo mundo já sabe que um dos meus maiores sonhos e desejos é ser mãe. Mas não é ser qualquer mãe dessas que a gente vê em cada esquina. Não é ser aquelas mães que olham pro filho como se ele fosse um rei tirano, nem ser aquelas que olham pro filho como se ele fosse qualquer coisa nem muito menos daquelas que nem olham pro filho. Não. Eu quero é a cumplicidade, tardes de risadas, contar histórias antes de dormir, cantar e embalar, tirar milhares de fotos e lembrar depois com saudade, ensinar o que é música boa, o prazer que é ler, como Deus nos criou para sermos felizes um dia. Eu quero é cantar Beautiful Boy bem baixinho enquanto um pequenininho estiver dormindo profundamente sonhando com o futuro (Close your eyes, Have no fear, The monster's gone, He's on the run and your mom's here/ Beautiful, beautiful, beautiful/ Beautiful boy).

Eu quero quartinhos coloridos, manhãs de domingo cheias de amor e praças e músicas e danças esquisitas. Eu quero que pezinhos pequenos subam nos meus para imitar meus passos de dança loucos. Eu quero achar um lugar só nosso para a gente passar as férias. Eu quero ter que aprender um monte de coisas para ensinar alguém a ser gente de verdade, menos egoísta, menos orgulhosa. Eu quero ajudar alguém a entender que é bom se preocupar mais com os outros, com os animais, com as plantas, com a casa que é de todo mundo.

"Mas crianças crescem", você diz. É verdade, mas não me importa. Eu também cresci e meus pais ainda me amam, vejam só. E eu acho que eles definitivamente fizeram um bom trabalho me educando (e eu espero que eles saibam que tudo que deu errado é culpa minha mesmo). E mesmo grande eu ainda tenho manhãs de domingo legais, lugares especiais, férias em família e dias de risada. Certo que hoje eu já não sou mais tão fofinha e cuti cuti, mas acho que meus pais ainda acreditam que eu sou, sim. Não são os pais que sempre acham os filhos bonitos? E eu também vou achar isso dos meus filhos, tenho certeza.

Aí vem um e diz que também quer ser pai/mãe, mas que quer "um casalzinho", ou "uma menininha", ou "no máximo 1 filho". Aí eu tenho três comentários para fazer. 1) Eu quero quantos filhos meu dinheiro permitir, porque também não adianta ter uma reca de filho e não poder cuidar. Vá lá que pensando assim não vou ter tantos quanto eu gostaria, porque meu dinheiro é meio curto, mas aí entra o comentário 2: também não quero só um filho, né? Porque eu quero que meus filhos sejam antes de tudo amigos entre si e ser filho único deve ser muito triste. Então tem que ser mais de um. E o terceiro comentário: acho ri-dí-cu-lo quem quer escolher o sexo do filho. "Ah, mas eu queria primeiro uma menina", "ah, mas meninos são mais fáceis de cuidar", "ah, menina a gente pode enfeitar". Tsc, tsc, tsc. Quem pensa assim espera um pouquinho, que ainda não tá preparado pra ter filho. Porque eu acho que querer ser mãe não é só querer matar uma vontade sua, não. Não é igual a pedir uma Barbie para o papai Noel. Você tem que estar preparado para vir Susy, Barbie, boneca de pano, o que for. Porque quem pede um filho pro Papai que não é o Noel, tem que querer é formar uma família. Aí pode ser que Ele mande menina, menino, gêmeos, trigêmeos. Pode ser que Ele permita que nasça um ou vários do seu útero, ou que coloquem na sua porta, ou que você adote. Mas aí são só detalhes para quem quer realmente ter uma família com filhos.

Eu quero. Um dia.

"É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem"

segunda-feira, agosto 11, 2008














Porque eu também sou meiga, ué.

Amarga

Okei, existem os momentos felizes, os momentos indiferentes e os infernos astrais. Porque eu poderia escrever aqui sobre a minha infância feliz, os filhos que quero ter, o futuro que eu espero ou sobre amigos que amo. Mas hoje não! Hoje eu tô a fim de escrever sobre coisas que odeio. A minha mãe vive dizendo que odiar é uma palavra muito forte. E eu até admito que você odiar na maioria das vezes te deixa mais e mais infeliz, mas o que que eu posso fazer, né? Agora, seria legal se você não tivesse coisas para odiar, mas não é o caso ainda. Quem sabe daqui há uns 300 anos, né? Inferno astral é inferno astral e as coisas que te fazem se sentir mal vêm à tona e parece que aquilo que você chama de "seus problemas" pesam 1 tonelada a mais.

Certo, começarei a série "Basta!".

Odeio, por exemplo, semi-conhecidos ou desconhecidos sem-noção que acham que tem intimidade suficiente para falar pegando em você. Alisa seu braço, segura no seu ombro. Urgh. Um dia desses vou parar tudo, interromper o diálogo(?) e dizer: Basta! Vem cá, eu te conheço? Ah, nem os meus amigos mais próximos fazem isso. Já deu, viu?

Outra coisa que não suporto: gente que adora se fazer de vítima. Aquelas pessoas que são sempre coitadas, os problemas delas são sempre os piores, nada na vida delas dá certo e o bom mesmo será quando elas morrerem porque não atrapalharão a vida de ninguém. Oi? Você tá passando fome, querido(a)? Seus pais morreram num acidente trágico e você passou 10 anos da sua vida rolando de abrigo em abrigo? Precisa sustentar uma família de 10 membros com um salário mínimo? Não? Então beijosmebloqueianomsn, tá? Já me basta eu me fazendo de vítima para mim mesma, ainda tenho que agüentar os outros? Não, gente, porque uma coisa é você não agüentar seus probleminhas em um dia, uma semana, um período de inferno astral, vá lá. Mas todo dia já é exagero, vamo me poupar, certo?

Tão fácil lembrar de coisas que a gente odeia, né? Meu espírito protetor tá aqui do meu lado me lembrando que eu ainda tenho muuuito que evoluir. Eu consigo um dia, tá? Eu me esforço, cara.

Olha outra coisa que me dá nos nervos: me culparem de algo que não fiz. Taí: odeio! Se eu tiver feito algo errado, okei, pode brigar, falar, ensinar o certo e tudo mais. Eu costumo admitir quando erro. Mas não vem me culpar das coisas que não fiz, que eu detesto injustiça. Pego um abuso de gente que não quer admitir que errou e joga a culpa pros outros. Eu admito, por exemplo, que não consigo falar com que me chateio. Admito que não sei mais olhar nos olhos, que evito o diálogo até não dar mais pra adiar e que finjo que a pessoa não existe para melhor passar, prontofalei! Mas o que eu não admito é ter gente divulgando por aí que eu sou assim, assada, que fiz isso, aquilo, sem eu ter feito, né? Não, não dá. Se eu ainda tinha a esperança de consertar determinadas coisas e depois conversar e voltar às boas, depois que me acusam de ter feito algo que não fiz, só vou fazer as pazes obrigada, dente trincado, certo? Pego abuso.

Outra coisa: eu não sei dançar, certo? (Aí você deve estar se perguntando: que é que isso tem a ver?). Tá, eu não sei dançar, quando todo mundo tá no passo 10, eu ainda tô enganchada do passo 2, é assim mesmo. Mas, tá, não morro por isso, não. É por isso que a-do-ro música sem dança ensaiada. E se for ensaiada vou dançar nada a ver, mas e daí? Eu gosto de dançar engraçado, abrir os braços do nada e shake it up baby now! Bater palmas, gritar e cantar olhando engraçado pra minha irmã: adoro! Me sentir a astro do rock? Amo. E balançar a cabeça assim seguindo os acordes daquela música. Yeah, yeah, yeaaah! Certo, e o que é que eu odeio? Odeio aquelas pessoas malinhas que ficam te observando só para dizer que você dança feio, engraçado, parece uma doida e etecétera. É, danço engraçado, mesmo, e daí? Tô num concurso de dança, por acaso? Precisava estragar o meu barato, precisava? Ah, pega teu par e vai dançar com teus passinhos bonitos, ué. Me deixa.

Mas também não odeio só o que os outros fazem comigo. Odeio também coisas que eu faço e deveria não fazer. Ou coisas que eu não faço e deveria fazer. Não sei dizer bom dia olhando nos olhos de pessoas desconhecidas. Não sei ser amigável o tempo todo. Não sei dizer um elogio naturalmente, por mais que eu sinceramente queira elogiar. Não sei marcar conversas de desabafo sem que soe estranho. Não sei me afastar o suficiente das pessoas que eu deveria me afastar. Não sei dizer sempre tudo que eu tô pensando. Nem sempre sei dizer não. Nem sempre sei dizer sim. Nem sempre consigo ser clara. Sempre escolho as opções erradas nos momentos errados. Ou escolho as opções certas nos momentos errados. Só me lembro de dizer certas coisas quando a conversa já acabou. Fico remoendo coisas que não tem mais sentido. Nutro sentimentos infundados (bons ou ruins). Não consigo ser grossa ou delicada nos momentos que exigem grossura ou delicadeza. Eu sou estranha* e ponto.

Mas o que mais odeio é quem faz questão de me apontar essas coisas. Tá, eu penso nisso todo dia. Porque as pessoas adoram olhar pros nossos defeitos, né? Se eu tivesse adotado 10 crianças ou doado todo o meu salário para instituições de caridade ninguém iria comentar. Se eu tivesse ajudado velhinhos a atravessar a rua ou dado aulas de graça em uma escola necessitada ninguém ia saber, ia? Ah. Não sei nem como terminar mais esse texto. Então: basta!

*Essa é para a Gisele:
Estranho:
Acepções
adjetivo e substantivo masculino
1 que ou o que é esquisito, que ou o que se caracteriza pelo caráter extraordinário; excêntrico
Ex.: <é um e.>
2 que ou o que é de fora, que ou o que é estrangeiro
Ex.: é um (indivíduo) e. àquela comunidade
adjetivo
3 que causa espanto ou admiração pela novidade; desconhecido, novo
Ex.: cultura e.
4 que, de alguma forma, foge aos padrões de uso, aos costumes estipulados pela sociedade
Ex.: o e. comportamento dos jovens
5 que não se conhece ou reconhece; que desperta sensação incômoda de estranheza
Ex.: achou-o muito e., bastante mudado
6 que não faz parte de, que não pode ser identificado ou relacionado com
Ex.: este é um item e. ao programa do partido
7 que se esquiva, que foge ao convívio
8 misterioso, enigmático ou que levanta suspeitas
Ex.: crime e.


"Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor

Mentira"

sexta-feira, agosto 08, 2008

todos os sonhos do mundo

Parece que ela acordou diferente. Não disse bom dia (mas sorriu pra um dia bom). Parece que faltaram palavras. Parecia mesmo era que as palavras saíam era dos olhos dela. Foi assim, foi assim que ela viajou pra longe. Não disse tchau, não (apesar de ter quem diga que viu um tchauzinho no canto do olho comprimido pelas bochechas que sorriam). Aí não teve ninguém chorando, não teve ninguém com lenço na mão acenando adeus. Mas ela foi. Não olhou para trás, não disse nada. Ela só foi. Porque ela não queria ser rica, ela não queria ser famosa, ela não queria nem mesmo pintar o nome dela de verde limão nas páginas da vida. Ela só queria ter o direito de ir. Ah, ela só queria voar, como nos sonhos onde ela levitava e aterissava no chão bem suave. Ela só queria crescer e ser criança ao mesmo tempo. Ela só queria não se importar com o que os outros dizem. Ela só queria que chocolate fosse a comida mais nutritiva do mundo. Ela só queria ser uma mãe como os pais dela foram pra ela. E ter filhinhos sorridentes que adorassem ouvi-la cantar antes de dormir. Queria conhecer muita gente, ter coragem de provar comidas estranhas, andar de trem, fazer amigos por aí, falar todas as línguas do mundo. Ela queria, queria, queria...

Aí alguém cutucou o braço dela. Oi? Aí perguntaram se ela estava pensando na morte da bezerra. Essamenina que sempre sonha acordada, disseram. Parece que não tá aqui essamenina, disseram. Mas ela não tava mesmo. Ela tinha começada a viagem, lembra? Ela não disse tchau, não (apesar de ter quem diga que viu um tchauzinho no canto do olho comprimido pelas bochechas que sorriam). Não teve ninguém chorando, não teve ninguém com lenço na mão acenando adeus. Mas ela foi, lembra? É que ela viajava mais era assim, parada, essamenina. Ela não era nada, não podia querer ser nada. À parte isso, essamenina tinha nela todos os sonhos do mundo.

"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Estou hoje vencido, como soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer."
(Fernando Pessoa)

quarta-feira, agosto 06, 2008

Dia bom.

Quando as frescas e transparentes gotinhas de orvalho

caídas das folhas verdes

molharam meus óculos azuis

nessa manhã clara e amarela

meu dia ficou furta-cor.


"É de manhã, vem o sol/
Mas os pingos da chuva/ que ontem caiu/
Ainda estão a brilhar/ Ainda estão a dançar/
Ao vento alegre/ Que me traz esta canção"

segunda-feira, agosto 04, 2008

Aproveitando essa vibe de alimentar o blog, vou postar mais uma. Essa não é sensível porque oi? acho que já deu por hoje! Mas enfim. Tô vindo aqui para demonstrar minha indignação. Genthi, que tá faltando homem toda mulher hetero sabe, néa? Não que eu esteja aí desesperada " a procura" porque acho isso uó! Mas, vem cá, além de tudo, temos que conviver com homens que não servem, é? Ah, porque vem um que nem te conhece pedir dinheiro emprestado (oi? tenho cara de Bradesco?) e vem outro que você achava que era teu amigo e te manda um vídeo dizendo que não existem amigas, mas mulheres que você ainda não teve a oportunidade de "pegar". Aí vem aquele outro que te deu um pé nos fundilhos do nada querendo ser amiguinho de novo e você tem que pagar de amiga-confidente? Além daqueles vários lindos e inteligentes que você pensa que estão te dando supermole, mas no fim você descobre que são gays. Sou só eu, ou todo mundo viu algo de errado aqui? Bas-ta. Cansei, genthi. Vou trabalhar, ver filmes, comer chocolate e postar no meu blógui! Cansei.

Aí quando você fala "não, mãe, sei nem se um dia vou casar" dizem que é você que não procura direito. Oi? Onde mais a gente pode procurar? Quem souber, beijosmeescreve!

Prontodesabafei!

"Essas marés montantes do passado"

Hoje eu vou falar de música. Existem músicas e músicas. E existem também gostos e gostos. Mas tem isso: ainda que eu ame o Ney Matogrosso e você não o suporte (morra, morra!) e ainda que eu abomine "Aviões do Forró" (Oi? O blog é meu e eu não consigo deixar esse nome do mesmo tamanho do do Ney) e muitos seres deste Ceará amem, música imprime, marca mesmo. Seja uma letra marcante seja um popzinho sem graça, todo mundo tem a sua música. Não tem quem não pense em alguém ou algo quando ouve aquela música. Ou naquela situação. Ou naquele fim-de-semana.

Para mim a vida só funciona com trilha sonora. Às vezes eu me acho meio Truman. Parece que minha vida é um filme estranho, e eu já escolhi a trilha sonora de cada ceninha dele (Ca-la-ro que Ney está em muitos destes momentos). De vez em quando eu me pego pensando em alguns momentos da minha vida e a música sai rolando na minha cabeça, como se fosse uma cena de filme mesmo. Tem coisa mais legal do que ouvir aquela música que você não ouve há cem anos e lembrar daquela florzinha que você ganhou naquele momento especial? Ou daquelas manhãs de domingo? Vem aquele estremecimento repentino e automaticamente vêm as lembranças.

Djavan me lembra manhãs de domingo quando eu era criancinha e ainda dançava pisando nos pés do meu pai. E tem aquela do Milton Nascimento que o meu pai cantava para eu dormir e dá vontade de chorar quando ouço: "Porque ainda é inverno em nosso coração/Essa canção é para cantar/ Como a cigarra acende o verão/ E ilumina o ar/ Si, si, si, si, si, si, si, si...".

Tem todas as da Legião Urbana que são minha adolescência, quando eu colecionava letras de música, morria de amores, não dava bom dia pras pessoas e só usava saia jeans e blusas com a cara do Renato Russo estampada ("Tenho andado distraído/ Impaciente e indeciso/ E ainda estou confuso/ Só que agora é diferente/ Estou tão tranqüilo/ E tão contente").

Tem aquela breguinha do David Duarte (e que adouro), "O que eu queria" que me lembra meu primeiro beijo (que puro :~). E tem também a do Paulinho Moska, que me lembra meu primeiro amor: "Eu estou pensando em você./ Pensando em nunca mais/ Pensar em te esquecer" (que puro :~ [2]).

E embora eu tenho um medo horrível a essas marés montantes de passado (como diria Quintana) é sempre bom relembrar o passado. O bom e o ruim. (Tá, nem sempre é bom, mas às vezes vem sem querer).

Kenny G me lembra minha mãe. Ednardo me lembra Pacoti. O Teatro Mágico me lembra Alana. Los Hermanos me lembra Nayana. Kid Abelha me lembra Gisele. Bethânia me lembra Eduardo. Música brega me lembra Joélia. Beto Barbosa me lembra a Fáti ("Tens de me dar...", xD). Fuscão Preto me lembra o AVE. 80's me lembra Simone. Ah, e tem a música da "manga de vez", que só me lembra da Dháfine! E tem mais mil que me lembram mais coisas, histórias, pessoas, lugares.

E eu poderia passar horas falando das músicas marcantes na minha vida. De momentos especiais. De pessoas especiais. De acordes especiais. De espaços especiais.

Agora me diz: qual é a sua música especial?

E bem aqui vem a minha especial. A do momento. A de sempre.
"Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo/ Eu acordei com medo e procurei no escuro/ Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo/ Porque o passado me traz uma lembrança/ Do tempo que eu era criança/ E o medo era motivo de choro/ Desculpa pra um abraço ou um consolo/ Hoje eu acordei com medo mas não chorei/ Nem reclamei abrigo/ Do escuro eu via um infinito sem presente/ Passado ou futuro/ Senti um abraço forte, já não era medo/ Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim/ De repente a gente vê que perdeu/ Ou está perdendo alguma coisa/ Morna e ingênua/ Que vai ficando no caminho/Que era escuro e frio mas também bonito/ Porque era / iluminado/ Pela beleza do que aconteceu/ Há minutos atrás".

quarta-feira, julho 30, 2008

Sair

Sabe, abri e fechei esse blog milhares de vezes até voltar definitivamente, agora. Agora ele tem mais minha cara, meio alegre, meio escuro, meio amarelado pelo tempo, meio novo e fresco. Uma brisa geladinha que chega de repente pra refrescar ou para fazer tremer.

Hoje esse blog meu querido vai dizer "bem-vindos" para todos e vai reviver. Comentar o que aconteceu, o que não aconteceu e o que deveria acontecer. Ser meio de comunicação só para mim mesma, para vocês que passarem por aqui ou para ninguém (quéquetem?). O importante é dar o primeiro passo. É sempre o mais importante: sair da inércia. Saí. Vem comigo?


"Atenção/ Tudo é perigoso/ Tudo é divino maravilhoso"

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

O óbvio


Quando ela resolveu sair de casa e atravessar a rua naquele dia, não percebeu que o Sol brilhava forte lá em cima. Não percebeu a brisa que previa um dia bom. Não quis notar que as crianças risonhas, não riam só para as mães e para as babás. Elas riam também para o mundo lá fora. Mas, não, ela não fez o mínimo esforço para notar a paz mágica do sorriso das crianças, a sinfonia rara dos pássaros em uma manhã radiante. Quando ela atravessou a rua, fez questão de simplesmente atravessar. Atravessar e suspirar, enfim, por mais um dia.

No fundo, ela se recriminava por só notar as pequenas alegrias tarde demais. Ela se recriminava por não saber ser uma Poliana e achar graça em tudo. Ela chegava a se desprezar por ter tanto, e ainda assim, ser um ser vazio. Sim, era verdade. Não havia como negar, parecia mesmo que estava impresso bem na ponta do seu nariz, numa placa grande com letras de forma vermelhas: empty (em inglês, para dar um ar mais hollywoodiano). Mas não era de manhã que ela refletia sobre isso. Não, não. A coisa pegava mesmo de tardezinha, quando a poeira quente da tarde vinha anunciando que mais uma noite estava chegando. "Mais um dia, pobre dia", ela pensava.

Mas aquela manhã veio diferente. Ela só ainda não sabia. Ela continuava com trabalho, com família, com dinheiro, com amigos, com lazer e com vazio. Ela continuava caminhando a passos lentos. Mas definitivamente aquela manhã chegou cheia de ar puro. (Tá, bem lá no fundinho ela até notou um brilho esquisito no raio de sol que refletia nos lábios coloridos de gloss rosa, da mocinha que corria mais adiante).

Engraçado, eu posso ouvir você dizendo que ela encontrou um novo amor, ou que uma criança inteligente disse coisas espetaculares que mudaram a vida dEla para sempre. É engraçado como as pessoas tentam adivinhar os finais das histórias! Mas, não, você está completa e redondamente enganada (enganadA, pois sei que raros homens lêem esse blog, e que eles não ficarão ofendidos com o tom segregador). Nada disso aconteceu, cara leitora. Na verdade, talvez você fique decepcionada quando souber que tudo se deu com um tombo. Não, ela não tombou com alguém incrível, ela não foi hospitalizada e viu a vida passar diante dos olhos em alguns segundos. Ela só levou um tombo. Mais um tombo. Num meio fio. Foi apenas uma torçãozinha leve que levou os grandes olhos dela pro chão do jardim da praça. Foi o suficiente.

Ela não quis mais levantar, sabe? Pela primeira vez ela viu duas joaninhas vermelhas de bolinhas pretas andando calmamente pela grama. Ela viu filhotes de flores lutando para crescerem. Ela viu botões de rosa desabrochando num espetáculo simples e lentíssimo. Lentissimamente ela percebeu um mundo minúsculo. Algo que não chegava perto do filme "Vida de Inseto", tsc tsc. Insetos não falam. Eles andam, trabalham, têm família. Eles nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. Flores também não falam (e, coitadas, não têm famílias).

Você deve estar se perguntando: "sim, mas o que tem isso demais?". É aí que está! Isso TEM demais! E são só insetos, puxa! Ela pensou primeiro: "os insetos são felizes". Mas foi aí que ela notou como aquele comentário era estúpido. Estúpido, sim. Insetos não são felizes! Insetos são insetos. Seus pequenos cerebrozinhos (licencinha poética, amigos) não pensam, propriamente. Eles mantêm a estúpida vidinha de um inseto: nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Foi Darwin quem disse: eles não evoluíram tanto quanto um humano, não.

Humanos, sim, pensam. Humanos, sim, podem construir cidades do jeito que querem, podem fazer músicas diferentes, podem inventar refeições diferentes todo dia (você já viu algum passarinho comendo minhoca ao molho, han?). E porque os humanos pensam? Talvez porque eles não estejam aqui só para nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Não é mágico? O que não faz um tombo para um ser com cérebro que só pega no tranco. Você já notou como se demora para descobrir o óbvio? Humanos são mesmo bichos engraçados.

P.S.: Não, ela não ficou feliz para sempre. Ela aprendeu a pensar. Ela aprendeu a notar o óbvio. Não é óbvio?

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Que fabuloso destino?


Ariane nasceu em um dia feliz de 1987. Não deu trabalho, chorou na hora certa e dormiu (até demais). Hoje, continua não dando trabalho e dormindo demais, embora agora chore nas horas erradas. Gosta de: cheiro de terra molhada de chuva, janelas de vidro, ouvir o canto dos pássaros, relembrar músicas antigas, risadas de crianças, lugares cheios de verde, piscar o olho, dar língua, ler quadrinhos e poder rir alto, cortar os cabelos, frio, agasalho e tascar o dedo na sobremesa quando ninguém está olhando. Não gosta de: Crianças que batem nos pais, pais que batem em crianças, piqui no feijão, animais maltratados, cinema lotado, lugares sem janelas, calor, sol forte demais, injustiça e falta de educação. Ariane não tem muitos amigos, mas se contenta em pensar com carinho em cada um dos que conseguiu cativar e em cada um dos que a cativaram. Ela vive sua vidinha corriqueira, usando a mesma colônia pós-banho e lendo seus livrinhos antes de dormir. Quem sabe um dia, algo aconteça e, de repente, mude completamente a vida da pequena Ariane. Ou quem sabe, mesmo, ela descubra que é bem feliz do jeito que leva sua vidinha, ora lenta, ora acelerada, mas sempre cheia de pequenas alegrias.