sexta-feira, novembro 23, 2012

Francisco Cajazeiras: amor e dedicação ao Espiritismo



Por Ariane Cajazeiras*

Escrevo silenciosamente, enquanto, diante de mim, meu pai também escreve, absorto entre trechos de livros e a tela do computador. Sempre foi assim, desde que me lembro. Mesmo quando o barulho das teclas era substituído pelo arranhar da caneta ou pelo ruído da antiga máquina de escrever automática. O certo é que Francisco Cajazeiras encarnou com uma capacidade absurda de concentração. Seja para o jogo de futebol da televisão, seja para a leitura de um livro ou na arte da escrita, que ele domina muito bem. Concentração essa que triplica quando o assunto é doutrina Espírita.
Minha mãe conta que passamos a frequentar o centro espírita quando eu tinha apenas alguns meses de vida. Ela guarda a data: 14 de março de 1987. Foi quando O Livro dos Espíritos foi apresentado para meu pai. Ou reapresentado, já que ele mesmo conta que quando começou a estudar a doutrina, imediatamente reconheceu tudo aquilo que ele pensava, mas em nenhuma religião havia encontrado. E esse amor ao Espiritismo o levou a devorar, avidamente, um a um, os livros da Codificação Espírita de Allan Kardec. Do mesmo jeito que falei no início, nessa exata cadeira em que o vejo sentado agora. Substitua o moderno notebook por uma edição antiga de O Livro dos Espíritos e talvez escureça um pouquinho os cabelos dele e verá a cena. Um estudioso em construção. Um defensor fervoroso do conhecimento multiplicado pelo mestre Allan Kardec.
A partir do primeiro contato com o Espiritismo, Francisco Cajazeiras passou a dedicar-se por inteiro à doutrina. Em menos de dois meses, engajou-se com minha mãe nos trabalhos do centro espírita e nunca mais se afastou, embora agora esteja à frente do centro espírita que fundou: o Instituto de Cultura Espírita do Ceará. Mesmo com todas as pedras no caminho, nunca cogitou deixar o movimento espírita.
Até hoje faltam prateleiras para o número de livros que ele adquire. E os lê, todos. Volta, estuda, pesquisa, relembra, relê. E empresta. Mesmo que os livros não voltem. Não há nada que o empolgue mais do que ensinar. Gosto de ouvi-lo discorrer sobre Espiritismo. Vejo a felicidade que experimenta quando recebe alguém ávido por conhecimento. E admiro a forma com que se utiliza de todo o conhecimento que adquiriu (e adquire ainda): multiplica-os e tenta aplicá-los à própria vida. E não é menos carinhoso e humano. Lembro de começar a ler Há Dois Mil Anos e confidenciar que chorei copiosamente em alguns trechos. “Espere até ler Paulo e Estêvão! A gente chora muito mais!”, disse-me ele.
Sabe, guarde bem esse segredo de escritor: quem escreve livros, não apenas repassa conhecimento, mas, antes de tudo, precisa estudar, trabalhar, lapidar as palavras para só então publicar ideias. Meu pai, embora médico, tem essa veia de escritor. E desde o início escrevia diversos textos, muito publicados em jornais de nosso Ceará, espíritas ou não. Todos devidamente recortados, colados em folha sulfite e guardados em algumas pilhas de pastas aqui em casa. Natural, então, seguir para a publicação de livros. O primeiro foi “Eutanásia – Enfoque Espírita”, que fala das diversas formas de eutanásia e a visão médica e espírita disso. Daí então não parou mais: até hoje foram doze publicados, sendo três deles psicografados.
O primeiro que li foi “Elementos de Teologia Espírita” (publicado em 2002, pela editora EME). Eu me preparava para falar sobre o Evangelho pela primeira vez, no Instituto de Cultura Espírita do Ceará. O exemplar encontra-se aqui a meu lado, com grifos por toda parte, pois adquiri do pai o hábito de destacar as partes importantes com caneta colorida. São 30 textos, com temas polêmicos, muitos interpretados de forma duvidosa até mesmo dentro do movimento espírita, como ressurreição e mediunidade. Lembro de começar a ler “O Diabo e as religiões” e não mais parar. Pois nos livros de Francisco Cajazeiras, transparece todo o lado professor dele: é uma leitura didática e fácil, mas ao mesmo tempo profunda.
 Em “O Valor Terapêutico do Perdão”, um de meus favoritos, demonstra a necessidade do perdão incondicional, como Jesus ensinou, não só de um ponto de vista ético e religioso, como também pelo fato de que sentimentos negativos de mágoa e vingança influem diretamente em nossa saúde. “A inclinação para o perdão incondicional é prova de sabedoria – maturidade intelectual, emocional e espiritual. É apanágio das grandes almas e passaporte para a paz e para a saúde integral”, diz.
                Pai, amigo, médico, espírita. Defensor ferrenho de Allan Kardec, que classifica como o grande esquecido do movimento espírita. Admirador e estudioso do grande escritor e (que orgulho!) colega jornalista José Herculano Pires. Palestrante espírita de uma retórica que me emociona sempre. Amigo amoroso, conselheiro fiel. Externa o amor em abraços e bom humor. Meu exemplo. Professor de Espiritismo e da vida. Assim é meu pai. Assim é Francisco Cajazeiras.
 
 *Ariane Cajazeiras é escritora da editora EME desde 2004, quando escreveu o livro infantil “O Coqueiro Solitário e Um Novo Irmãozinho”. Jornalista por formação e profissão, trabalhou na TV O Povo (TV Cultura-CE) e atualmente é editora de texto na TV Jangadeiro (Band-CE). Educadora por opção e amor, trabalha há mais de dez anos na Educação Espírita do Instituto de Cultura Espírita do Ceará, onde também é voluntária na área de Comunicação e Assessoria de Imprensa. Gosta de estudar, ler escrever e sorrir.


(Texto publicado na revista de livros da Editora EME (Mensagem de Esperança), edição comemorativa de 30 anos, outubro de 2012, seção "De autor para autor")

sexta-feira, novembro 09, 2012

Rule my world


"Somente alguém moralmente superior pode, talvez, honestamente merecer governar meu mundo". É isso. Gostaria de sair dizendo isso pra algumas pessoas. Definitivamente essa é uma das minhas músicas preferidas do Kings of Convenience. Pra quem não sabe inglês, a tradução da música toda, que funciona como um desabafo para mim: 

"Você se coloca acima de todos, esquecendo-se de Deus, você diz que acredita. / Sua bondade vai sucumbir, seu navio está afundando rápido e todos os seus homens estão indo embora./ Somente alguém moralmente superior pode, talvez, honestamente merecer governar meu mundo./ Eu falo antes de pensar, você atira antes de saber quem está em sua mira./ Então de alguma maneira somos iguais: você causa dor às pessoas, eu fico e levo a culpa, você tenta negar por noite a dentro./ Somente alguém moralmente superior pode, talvez, honestamente merecer governar meu mundo./ Explique-me mais uma vez: quando eles matam é um crime, quando você mata é justiça?" 

Ouçam aqui: 


quarta-feira, novembro 07, 2012

Ante as investidas do Mal

Quem maltrata e se sente maltratado,
com o coração dilacerado
Autointitula-se cordeiro
e ao irmão chama de lobo;
Quem traveste-se de probo
soldado de Jesus, ferido
E luta uma guerra imaginária,
Mal entende o que significa tolerância,
amor, caridade, confiança:
Amai-vos uns aos outros,
ensinamentos do Mestre nesta área.
Não acusem, entendam!
E vivam de acordo com o que pregam.
Ah irmão!
Palavras bonitas
empoladas, bem escritas,
não significam sentimento...
E se espalham a discórdia
não levam ao crescimento!
Não há motim, pois aqui não é quartel!
Muito menos há pessoas em busca do céu...
Aqui só há Espíritos tentando acertar
o caminho secular
da evolução do ser vivente.
Ah, irmão!
Sê correto: não mente.
Se queres ser instrumento de Jesus
Não segue as trevas, e sim a luz!



domingo, novembro 04, 2012

As cartas que eu não mando

Querida amiga,

Ainda posso chamá-la assim, "amiga". Sei que posso, pois assim a tenho ainda na conta de dentro de mim. Os anos podem até passar. E a gente vai mudando, pro bem e pro mal também, infelizmente. Mas tem coisas que ficam, se instalam, e as mágoas viram pequenas, bobas, esquecíveis. Amor, carinho, desejo de felicidade, amizade!

Você que gosta de mandar cartas, li tantas delas por esses dias. Sei que não perdeu essa mania, seu noivo me disse que tinha também uma caixa delas! Revirar o quarto tem um tanto de revirar lembranças. Fotos, cartões, telegramas, recados, pedacinhos de papel, bloquinhos de anotação... e elas, as cartas. Lembro do seu baú cheio delas. E de receber uma sua quase toda semana e assim começar a formar minha própria coleção. Em um tempo em que nós éramos só sonhos, esperas e esperanças. Em um tempo de mudanças, transições, amores incertos, corações medrosos. Em um tempo em que cada conquista e cada derrota era sentida com muita intensidade! Um tempo de conselhos mútuos e de uma amizade que fazia chorar e sorrir, sempre de felicidade e cumplicidade. Ler uma cartinha é reviver, não é?

Lembranças... Não acreditei quando você disse que nunca tinha assistido Dirty Dancing. A gente alugou o DVD e chorou vendo o Patrick Swayze e a Baby se apaixonando. Comendo pipoca e pão de queijo com brigadeiro. Eu achava essa comida meio doida, mas gostei. Gordinhas gostam de tudo que engorda, impressionante! Depois a gente ficava conversando e brincando com as cachorrinhas. Minha mãe ligava e mandava eu voltar para casa. Eu me formei, comprei meu carro e sentia que a vida começava a mudar! Buzinava lá de baixo, a gente reunia todo mundo e ia para a praia! Eu nem gostava muito de praia, você me fez enxergar a beleza do  mar. Hoje eu e ele somos amigos e cúmplices.

Você tinha uma mania de trocar tudo, emprestar as coisas e pegar outras emprestadas. Era uma coisa que me fazia sentir mais de casa. Emprestava livro, colar, brinco, CD. Tenho aqui um bracelete seu, prateado, todo trabalhadinho. Você às vezes lembra dele e se pergunta onde é que foi parar? Agora já sabe: está aqui. Mas não irei devolver, fica assim como está. Você só vai se lembrar quando pensar em usá-lo. Tinha também um CD do Lulu Santos. Demorei a devolver! Aliás, era seu? Não lembro, mas ouvimos muito esse CD! Ainda lembro de você ao escutar Lulu Santos e Los Hermanos. Era tão você!

Você lembra? Quando quem eu achava ser meu amigo me virou as costas? Não lembro o motivo, mas chorei e sofri tanto! Éramos adolescentes e essa fase da vida deixa a gente intensa. Mas você estava comigo! E isso foi uma prova de amizade e carinho. Eu não passaria por aquilo sozinha e a gente sente a providência de Deus quando ele nos manda gente para nos proteger. Em resposta a gente tenta também protege quem serve de anjo para nós. E eu nunca agradeci... Nunca é tarde: obrigada! Os sábados no Dragão do Mar, os cinemas, as andanças, as praias, as viagens, as confidências, presentinhos, as cartas, as peças de teatro, cafés, lanchinhos, risadas, andanças... Obrigada!

Minha amiga, é bonito ver como você amadureceu. Talvez eu mesma não tenha crescido tanto (não sei, acho que estou mais medrosa e menos esperançosa, mas também cresci em alguns pontos. Fica pra depois.). É triste ver que estive distante e você esteve distante e, enfim, nós crescemos. Mas crescer tem um quê de dificuldade mas uma parte tao boa de alegria, de conquistas. E você vai se casar, que coisa linda. Tenho certeza que irei chorar tanto na cerimônia! Você que tinha tanto medo de ser feliz! Eu dizia: vai ser feliz! Ainda bem que você foi, seguiu, andou, enfrentou, construiu uma estrada linda de tijolos firmes, brilhosos! E terá uma linda família e filhos de olhos grandes e sinceros, como os seus!

Desejo pés na areia, caminhos floridos, sorrisos, sentimentos, docinhos, coragem, viagens, amizades, amor, muito amor.

Guarde mais essa cartinha., por favor. Já que ela é virtual, guarde no coração.

Um grande beijo!


A garota no carrossel


Eu tenho uma garota que é só sentimentos. Todos os dias a coloco sentada em seu cavalo preferido no carrossel do parquinho do bairro. Aquele rosa, com um rabo sedoso e crina cheia de brilhos. Ela abraça o pescoço do cavalo, deita-se e finge estar naquele campo do filme dos contos de fadas. Intercala um abrir e fechar de olhos. Ora sonha, ora inventa sonhos nas luzes do parque. Minha garota gosta de ver a vida girar lentamente. Ela gosta das cores, das luzes piscando e da música antiga que toca enquanto ela roda, roda, roda...

Mas a doce Mimi anda triste. Carlinhos nunca mais apareceu. Ele costuma vir às cinco da tarde e rodar nas xícaras tanto, que os dois saem tontos e frouxos de rir. Faz um tempo que Mimi não sai frouxa de rir. Eu não sei rodar na xícara, não como Carlinhos. E Mimi só sabe ser lenta, não quer rodar sozinha, não aguenta a rapidez se não for de mãos dadas!

Eu sabia que isso iria acontecer logo, Carlinhos estava diferente, já não queria que lhe comprassem algodão doce, que sujava os dedos, lambuzava muito e era rosa. Mimi não notava a diferença. Minto... notava sim! Fazia de conta que não, pois queria que a vida fosse para sempre assim. Poderia ser, mas só se Carlinhos quisesse. Ele não quis. Não o culpo. Mimi se conserva uma criança, tem sonhos pueris e bonitos, olhos brilhantes e fé na vida. Carlinhos cresceu e esqueceu de olhar para dentro. É grave crescer e esquecer de olhar para dentro, muito grave! Mas tão comum...

Agora, quando íamos ao parquinho, a tarde caía em três momentos: com o Sol frio no céu, às 4 horas, Mimi rodava em seu cavalo no carrossel. Eu ficava logo ao lado, sentada na carruagem de brinquedo, olhando o sorriso esperançoso da minha menina. Quando o Sol caía, às 5 horas, ela esperava na fila da xícara. Às 6, quando notava que ele não viria mesmo, de novo, virava os olhos para o chão, a tristeza caía aos pingos. Ela fingia ser um cisco, pedia um algodão doce rosa, segurava em minha mão e quase corria para a saída do nosso parquinho. Depois ensaiava um sorriso e fingia não doer.

Não creio que Carlinhos deixou de nos amar. Amor não morre, às vezes adormece. Ele apenas esqueceu de tudo, porque às vezes a vida nos inebria. Ele esqueceu da vez em que faltou energia e ligamos a lanterninha e seguramos nossas mãos e não soltamos mais até a luz voltar. Esqueceu do dia em que deitamos na grama e contamos todas estrelas, dando nomes esquisitos para cada uma delas. Esqueceu da vez em que o pai dele ficou doente e ele teve que ser forte em casa. Foi quando Mimi abraçou-o mais longamente. Foi quando juntamos as moedas do ônibus de toda a semana e compramos hambúrguer com queijo cheddar e coca-cola para todo mundo, fomos ao cinema e rimos até a barriga doer. E depois andamos a pé por um tempo, mas nem ligamos. Esqueceu que tinha prometido nunca mais ir embora, pois "família queria dizer não abandonar, ou esquecer", como dizia aquele filme do monstrinho azul. E a gente tinha escolhido aquela família, tão amigos éramos.

Carlinhos apenas esqueceu, cresceu, anestesiou e quis viver. Eu poderia culpá-lo por fazer escolhas? Não, mas o faço. Faço porque vejo a carinha da minha menina. E ela ainda segura forte na minha mão, tentando me proteger! Mimi nunca quis ser a irmã frágil, mas éramos duas mocinhas de vidro. E nosso coração estava todo estilhaçado na areia. Estava difícil juntar tantos pedacinhos.

Mimi, nossos dedos estão sangrando, nosso coração está sendo colado e vai ficar cheio de grãozinhos de areia, meio rústico... mas grosseiro não! Não se preocupe, tudo vai ficar bem. Vale dizer que te amo? Que não se preocupe que nunca irei deixar de rodar no carrossel com você? Acorde-me quando eu estiver dormindo e me peça proteção. Desculpe-me as palavras duras, mas a verdade é dura e Carlinhos se foi. Por enquanto, mas não nutra esperanças quanto a volta dele.

Mas o poeta disse que sabe que "é preciso perdoar", que "a beleza de amar é se dar". Quero que o mundo todo seja feliz. Não podemos deixar de amar, não é? E não vamos deixar, porque simplesmente não conseguimos. Comecemos por construir a nossa felicidade. Sorriso a sorriso. Vitória a vitória. Abraço a abraço. Sempre, mas sempre, de dentro para fora!

Carta para uma mocinha


Querida,

Parabéns pelo seu dia! O tempo passa muito rápido, há pouco tempo estávamos passeando pela nossa serra, brincando no parquinho do Remanso! Um tempo muito bom, não é? Saiba que amo você e a tenho como alguém da minha família. Aquele tempo em que você tinha cachinhos e vivia me seguindo! Tenho boas lembranças disso! Sinceramente, desejo que você alcance seus sonhos e seja muito, muito feliz. Que você consiga continuar desenvolvendo o melhor de si! Todos temos uma lado bom e um lado ruim, mas estamos nesta vida para tentar sobrepor as coisas boas em detrimento das ruins. Sei que conseguirá! Você é uma menina doce, inteligente, que busca o conhecimento, extrovertida, determinada, simples e muito sensível... Mantenha isso, independente de qualquer coisa! A nossa felicidade está dentro da gente, nunca fora, não esqueça disso! Espero fazer parte de sua vida em outros momentos e com certeza farei, nem que seja vibrando pela sua felicidade. Conte sempre comigo.


PS: seguem na foto uns bolinhos virtuais cheios de carinho... e de porquinhos rosas felizes!



domingo, outubro 21, 2012

De onde vem a calma...



"Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
Não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado
Rei de mim."


(Essa arte veio de uma coletânea online com artistas interpretando músicas dos Los Hermanos! Algumas músicas têm uma linda ilustração de Luyse Costa. Não sei quem ela é, mas amei. E se você quiser baixar, o link é esse! )

quarta-feira, agosto 29, 2012

Vai amanhecer enfim.


Nem olhei pra trás quando eu saí
Abri a porta e zás, a rua tava ali
Nem olhei pra trás quando eu saí
Abri a porta e zás a rua tava ali
Só me importava saber que eu não esqueci
O remédio pra tomar e roupa pra vestir
O sol irá quarar, o sol irá despir
O sol irá se pôr, o sol irá luzir
Enxuga o pranto vai amanhecer
Enxuga o pranto vai amanhecer
Vai amanhecer enfim.

Velha História - Mario Quintana

Um espetáculo sem ensaio

        Somos todos atores no palco da vida. Somos Espíritos encarnando personagens. Fulano ou Cicrano. João ou Maria. Pobre ou Rico. Famoso ou Anônimo. Quando chegamos a este palco, a encarnação terrena, vestimos as máscaras necessárias para nossa evolução. A sua vida é uma comédia? Um romance? Um drama? Ou tudo isso ao mesmo tempo? Não importa qual o script da vez! Os Espíritos por trás das máscaras são os mesmos. Atores em busca do grande papel. Antes de entrarmos nos palcos planejamos como será o espetáculo, mas às vezes os improvisos desvirtuam o final esperado. Mas o Diretor maior, Deus, permite que estreemos espetáculos indefinidos até chegarmos ao desfecho, o papel ideal que nos levará à evolução. A busca da plena felicidade!


domingo, agosto 19, 2012

Volto já

"Coração fechado para balanço.
Inoperante. 
Mesmo com saldo negativo, 
ele amanhã abre de novo 
e segue adiante." 

(Quem falou por mim hoje foi Flora Figueiredo)

terça-feira, junho 19, 2012

E eu quero fazer a minha alma.

"Eu não entrei na trilha dos saltimbancos por acaso, nem para ser um reles fazedor de graça. Eu queria consagrar a minha vida através de um imperioso apelo vocacional. Mas as pessoas, com suas receitas de sucesso, sem nenhum escrúpulo, sem nenhuma sensibilidade, vieram me falar de mil e um palhaços geniais. Para (...) Bobo Plin se irmanar com os grandes palhaços que luziram nos palcos e picadeiros tem que se esquecer deles para sempre. Não pode recolher nenhuma indicação deixada no caminho. Tem que andar sem bússola, na mais tenebrosa escuridão. Qualquer brilho, qualquer estrela, qualquer sol, qualquer referencial vira um ponto hipnótico embrutecedor. E eu quero fazer a minha alma." Esse é um trecho da peça de Plínio Marcos, Balada de um palhaço. E a imagem abaixo é do filme lindo e sensível, "O Palhaço", do Selton Melo. Embora não seja claramente uma adaptação do texto do Plínio Marcos, ambos tem mais ou menos a mesma trama, apesar de finais diferentes. Um palhaço que se questiona: quero mesmo ser palhaço? "Eu faço o povo rir. Mas aí quem é que vai me fazer rir?", diz Benjamim, personagem de Selton Melo.

sexta-feira, maio 04, 2012

Deixa partir

Deixa partir. Assim é a regra dos amores. Amizades não são propriedades, então deixa partir. Amor de amigo a gente cultiva assim, com liberdade. Deixa cada um construir a sua vida, isso é amar: deixar o outro ir, mesmo que você não vá junto. Se é pro bem, se é pra exercitar o sentimento, virar fruta madura, se é pra crescer? Então deixa partir! Se alguém soltar sua mão para voar, deixe, deixe ir. Deixe virar pássaro azul, amarelo, cor de rosa. Deixe conhecer um ninho distante, sonhar sozinho, não pedir mais seus conselhos. Deixe não querer mais seu abraço, sua companhia, seu carinho. Cada um cuidando na sua vida e crescendo, crescendo, crescendo. Depois vão se encontrar um dia e dizer: "que saudade daquela época que a gente se escrevia carta. Que saudade da gente chorando junta assistindo filme bobo. Que saudade da nossa amizade que o tempo levou depois que a vida cresceu! Que saudade! Olha aqui meu filho, olha aqui meu emprego! Tô feliz! Um beijo, a gente se vê, vem tomar um coca-cola qualquer dia desses". Você olha feliz, só feliz, sem amargura, só feliz. Né? Qual o que? Sem amargura? Tudo tão lindo, minhas próprias palavras e anseios. Queria sentir-me assim. Mas eu bem sei o quanto me custa deixar partir. Eu disse para você crescer! Eu quis te ver voar! Pedi pra soltar da minha mão! Mas não era pra se perder de mim pra sempre, não. Porque é difícil dizer tchau.

"As duas eus" ou "Um pouquinho de cuidado"

Às vezes a vida precisa só de um toquinho de cuidado. Cuidar do outro, da casa, do mundo, de si. Respirar, esquecer, perdoar, descansar o coração e os ombros. Escrevo dando conselhos para mim mesma. Eu sou filha de mim mesma, tentando cuidar da minha alma velha e cansada, leve e fresca. Contraditória. Meus conselhos são simples e bonitos. Mas como filha rebelde, rebelo-me contra mim e fecho os olhos e ouvidos para o que repito para meu eu. Depois que canso de brigar com minha filha imatura e depois que a fadiga toma conta do corpo da minha conselheira serena, deito no chão, no meu cantinho ventilado. Sinto a brisa, olho pro céu negro pingado de estrelas distantes, apagadas de céu de cidade, tento não pensar em nada, finjo ser só uma e assim sigo. Até quando?

sexta-feira, março 09, 2012

Mas, quem?

Sei lá, eu gostava dele. Mas agora que se foi parece apenas parte de um passado roto e distante. Um sonho distorcido e preto e branco. Um cinema mudo que assisti em uma vida passada. Como aquele amor platônico, que você sabe que não aconteceu, mas guarda a lembrança de não-sei-o-que.

domingo, fevereiro 26, 2012

Um dia

Tinha música tocando. O céu estava nublado. Comi algo muito bom. Muita gente sorria. Ou eram só 4 pessoas? Mas sorriam e pareciam muitas. Pratos meio cheios. Copos meio cheios. Um pingo. Não chove. 2, 3, muitos pingos. É chuva! Todo mundo corre. Alguém volta pra salvar os copos e os pratos. Mais sorrisos. Um friozinho. Um calor. Azulejos antigos. Manchados. Diferentes. Coloridos. Músicas e vozes. Depois mãos dadas, óculos embaçados, pés molhados e a felicidade. Não é que existe?