sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Amanhã

Amanhã pode não ser claro
Porque eu ouvi falar
que o céu ia cair

Amanhã pode não ser lindo
Os planetas vão se chocar um dia
No espaço sideral

E pode ser amanhã
Que você vire pó de estrela
Depois que o mundo explodir

Que morte mais poética
Ficar no firmamento

(Foto: internet)


quarta-feira, setembro 28, 2016

Mesmo

Mesmo
Com toda a mágoa
Com a pouca água
Com a voz que falta
Com aquela pauta
Que não deu;

Mesmo
Com aquele medo
Com o teu segredo
O aponta-dedo
O arremedo d'uma amizade
que morreu;

Mesmo
Com o pouco tempo
Pra'o sentimento
Com o tormento
Desse momento
De agonia sem igual;

Mesmo
Com muita gente
Pra pouco leito
Com pouca gente
Pro que é direito
E com o desalento que é viver;

Mesmo
Com o presidente
Com a presidenta
Com a semente
De uma tormenta
Em um país tão desigual;

Mesmo
Com a escara
Com a conta cara
Com a água rara
Com a tua cara
Que nunca para de julgar;

Mesmo
que a gente ache
que não se encaixe
Na sociedade
Tão sem verdade
C'a gente morre de vergonha só de olhar;

Tem uma certeza vindo
Parece lindo
Não sei direito
Se é Divino
vem dividindo
Essa carga grande emocional;

Vem, parece centelha
Que vai crescer
Mas não sei aonde
Qu'ele se esconde
Só sei que cresce
A esperança, ao notar;

Vi num sorriso largo
De um menino
No ventre grande
De uma gestante
No abraço puro
Do meu futuro
Num sonho escuro
Clareou;

Vi um planeta duro
Virando puro
E um retirante
Virando amante
Da Terra azul
'Pós uma boa nova
Espalhada e viva
Na revolução que é o amor.

A minha mente é um barco a deriva

A minha mente é um barco a deriva
vai navegando na enxurrada de informações.
Periga virar no fluxo constante e irremediável da vida.
No celular, meus olhos se confundem
Com golpes, atentados, eleições, tatuagens
Presidentas, presidentes, a China e likes
Amores e mortes e filmes e lugares que quero ir;
Pequenas telas, cabeça baixa:
Abandono, Netflix, assassinatos e listas de coisas inúteis
E vídeos maravilhosamente confortantes de animais sendo animais
Fotos e quereres e gritos e intolerância.
A mente inquieta às vezes não pode
A mente inquieta só pode com a paz de:
Um pai deitado, olhos cerrados, sono tranquilo;
Uma mãe sorrindo, dedos ágeis nos pontos de costura;
Uma irmã lendo o mesmo livro que a conforta;
(Um irmão respira a cidade sob duas rodas em algum lugar)
Gatos e sua preguiça deliciosa, olhinhos piscantes (dizem significar amor).
Minha mente é uma barco a deriva
Que só não vira e entorna e morre
porque o amor pesa, desentorta e segura o fluxo:
O amor é guia
O amor é conforto
O amor é porto.

Sobre lembranças e partidas

O facebook me lembrou que faz 5 anos que vovó Iraci desencarnou. Forte e teimosa. Às vezes (muitas) abusada, a baixinha. Perdeu o marido quando papai era criancinha, ficou com 2 meninos.

Pintou o cabelo de rosa com papel crepom depois dos 70. Dançava e atuava com o grupo da terceira idade. Quando o pai era criança, montava peça com ele de ator (até hoje ele sabe o texto final de uma delas, quando dramaticamente caía no chão).
Vó Iraci fazia um feijão até hoje rememorado à mesa lá de casa. Tinha também um pavê de abacaxi que ninguém nunca repetiu igual. Montava lembrancinhas todo Natal pra dar pros netos. Lembro de ter chocolate sempre.
Vaidosíssima - mesminha a neta que vos fala - vovó tinha uma penteadeira antiga, de madeira, meu paraíso de infância. Maquiagens, brincos de pressão bem brilhosos e enormes, colares... Vovó me proibia de mexer nos pertences dela, mas me deixava ficar no quarto com acesso a tudo. Por isso desconfio que ela queria era me ver montada e pintada com as coisas dela (apesar das ameaças de delatar tudo pra mamãe).
Não tenho fotos recentes com ela. Mas se olhar pro meu pai, dá pra ver um pouco dela, na semelhança daqueles olhinhos pequenos e a boca fina. O cabelo bem branquinho, liso e cheio. Mas menina, 5 anos que foi pro lado de lá. Obrigada, facebook. Não conto datas de morte, porque nem acredito na maldição dela, nem gosto de lembrar o doloroso dia da partida. Gosto mesmo da lembrança da jornada. E do conforto de saber que não existe separação quando existe amor. Um beijo, vó.

terça-feira, setembro 29, 2015

Doeu. Passou.

Subi no último galho
Da azeitoneira do quintal
Eu não tive medo
(Eu tive foi pavor, mas é normal)
De lá te vi
Você sorriu. Caí.
É que o seu olhar me enclausurava.
(Eu achava, achava mesmo 
Que você me amava)
Eu achava até que eu te amava!
Eu achava...

Caí do último galho
Da azeitoneira do quintal
Eu não tive pavor
(Eu tive foi dor, mas é normal) 
Do chão, te chamei. Travei.
É que o seu chorar me encabulava.
(Eu achava, achava mesmo
Que você me cuidava)
Eu achava até que você voltava!

Eu achava...

Que você era o meu galho
(Paspalho!)
Que você era meu mundo
(Imundo!)
Que você era normal
(Que mau!)
Que você se preocupava
(Que parva!)
Que você não machucava
(Eu achava!)

Pisou, matou, cuspiu
(Sorte que o amor não viu -
Porque nunca foi amor).
Amar não é viver ameaçada
Amor não é'essa eterna caçada
Não faz bem viver enclausurada
No medo de não ser a coisa amada. 

Amar é não precisar subir na azeitoneira
nem se jogar, nem se afundar, nem nada
É de repente se perceber amada.
(Me agrada)
Querer bem de graça.
(Não passa!)
Um abraço que não se finda.
(Não finda!)
E fica sempre melhor ainda.