quarta-feira, abril 28, 2010

And your hand is held open intentionally, or just what I want to see?

Dá pra perceber que aprendi agora como postar vídeos no blog? Hehe.

"Are they saying sorry or please?
I don't know what's happening, help me
I don't normally beg for assistance
I rely on my own eyes to see
But right now they make no sense to me
Right now you make no sense to me"

Failure is always the best way to learn

Kings of Convenience tem o poder de deixar meu dia mais leve. Ainda vou escrever mais sobre como as músicas aliviam as tempestades. Por enquanto, deliciem-se com uma das minhas preferidas.

terça-feira, abril 27, 2010

Mas vai ser.


A cidade dorme. Na rua, o gato mia, mas tão de levinho que parece mais uma alma de outro mundo. Até ele respeita o sono, a noite, o silêncio profundo. Tem uma casa onde um pai chora, abraça uma mãe desesperadamente dolorida.

Um pai perdeu seu filho e se encheu de dor. Um filho perdeu sua vida e mudou-se com sua alma para longe. Dores se espalhavam pela cidade que dormia. Dores que gritavam, dilaceravam os ouvidos do coração. Lá dentro, quem sofria, ouvia bem o grito, o choro. Mas só lá dentro, dentro de si.

Milhares de dores, milhões. Filhos que se foram, amigos que se foram. Insegurança, egoísmo, traição, orgulho. Tudo o que gerava milhões, milhões de choros incontidos, de sofrimentos que gritavam por dentro, que implodiam lentamente, se é que é possível, quem os sentia.

Do outro lado da cidade, amigos separavam-se de amigos com muitas lágrimas nos olhos. Eram corpos inteiros que choravam, choravam por inteiro, desmanchavam-se.

A cidade escura e silenciosa guardava diversos corações. Uns dilacerados, uns bem feridos. Uns tão escuros, derramavam líquido viscoso e negro que se espalhava, espalhava seu odor e pouco a pouco poluía o ambiente, fazia arder os corações feridos, magoava-os tanto. A cidade quente às vezes ficava, sim, muito gelada.

Mas tinha alguém aspergindo um aroma de lavanda num cantinho da cidade quente-gelada. Tinha alguém desvestindo o preto e colocando cores, distribuindo sorrisinhos, gentilezas. Tinha alguém ofertando curativos , sedativos, paliativos para os dilacerados. Esses 'alguéns' eram os mesmos que faziam passar a noite e ligavam a luz do Sol. Como uma grande mão que abre uma janela blackout pra deixar a luz entrar. Tudo esquentava mais uma vez. O ar puro da manhã inundava tudo e os líquidos pretos, as invejas, as traições, os egoísmos, escondiam-se, iam morrendo, porque não suportam luz. A coisa acontecia assim, nos cantinhos da cidade. Era assim sempre, na cidade. E todo mundo chegava à conclusão de que isso era a vida. E quem disse que ela é bela?

terça-feira, abril 20, 2010

Jogue o guarda-chuva no lixo.


É que chove tão pouco e hoje é nosso verão-inverno. Ou seria inverno-verão? Venta tanto lá fora. E aqui dentro faz calor. Quero segurar na mão sua e sair com um vestidinho fresco, correr no quintal, vamos? Com essa sua roupa mesmo, vamos feito loucas, vamos? Meu cabelo quer água que vem do céu. Meu rosto, meu corpo, eles querem.

Corremos. Pulamos. A água cai e cai. Penso que vou escrever sobre isso, sobre como banho de chuva lava a alma. Deitemos no chão e abramos nossas bocas. Esqueçamos da idade, do emprego, do trabalho, da obrigação, da tensão, da roupa engomada e limpinha. Chutamos a água que ficou nas pocinhas. Cantamos "singing in the rain" e "tomar um banho de chuva".

Ah, assim, sim. Cabelos gotejando, roupas pesadas de água, lábios arroxeados, queixos tremendo, risadas incontroláveis. Chuva hilariante, parece! Vamos, a gente corre. As mãos pra cima, um ritual pra chover mais, parece. Parece que somos loucas, que somos pequenas, que somos crianças, que somos nós. E tão lindas estamos na radiante noite de chuva. Lá na rua umas crianças de verdade, daquelas que as mães não estão nem aí, correm e gritam. E nós aqui no quintal. Pinga, pinga. Acabou. Vamos deitar no chão, pedir mais? Pedir mais chuva ou mais noites destas? De repente meu sorriso não quer mais sair do rosto.

Alguns receitam, pra curar problemas, banho de sal grosso ou banho de mar (entrando de costas, parece). Eu digo: chuva. Chove e a gente chove junto. Chova. E jogue aquele trambolho que chamam de guarda, mas é, na verdade, um espanta-chuva, no lixo. Vamos chover?

segunda-feira, abril 19, 2010

"Como é estranho ter saudade de si mesmo"

Perdi você, agenda, em janeiro. Estava tudo anotado até a viagem para Guaramiranga. O telefone da dona da casa que alugamos, estava tudo lá. Uns dizeres, uns pensamentos. Ah, agenda, você perdeu muito: 2 longos meses e mais 19 dias. Porque já acabou foi fevereiro, foi março.

Agenda, você que estava impregnada de amor meloso, perdeu o fim. E eu tanto que te procurei, querendo chorar as pitangas. Mas não fique mal por isso! Passou tanto tempo que você perdeu também a tristeza, o lamento, as humilhações, as breguices e os nunca mais. Perdeu ascenção e queda.

Voltei, agenda. E tive saudade de mim. Sou eu de novo: a velha menina. Das flores, dos sonhos, das cores, da chuva. "Como é estranho ter saudade de si mesmo"*.

*Parece que foi Jens Peter Jacobsen, escritor dinamarquês, quem escreveu essa frase. E li isso em algum post do maravilhoso blog do jornalista desempregado Duda Rangel, Desilusões perdidas (não sei colocar links em blogs, beijos).

quinta-feira, abril 08, 2010

Clandestina

Eu sou uma clandestina. Escondam-me, por favor. Mais uma vez descobriram: eu sou uma clandestina no mundo. E eu vou ter que correr e me esconder. Não é fácil ser clandestina! Mas, pelo menos, tem quem se compadeça dos clandestinos em um navio ou tentando a vida na soy loco por ti America. Eles só querem ser felizes, né? Eles correm riscos para tentar ser felizes, olha que bonito. Eu também, gente.

Silêncio, não espalhem, mas eu tô aqui de clandestina. Vim presse mundo achando que ia ganhar bem, ter um cachorro de orelhas caídas, carro na garagem, Ap bonitinho, casa de serra. Achando que ia casar e ter lindos e saudáveis filhos. Achando que aos 30 ia ter a vida que pedi ao Papai-do-céu. Mas descobri que vida de clandestina não é tão fácil. Não é tão fácil falar tudo o que se acredita ser necessário sem ser mal-interpretada. Nâo é tão fácil escolher as coisas nesse mundo: trabalho, amigo, par. Nem é fácil arranjar um lugarzinho pra se esticar e tomar um cadim de Sol. E assim como grande parte dos clandestinos da terra do tio Sam tem que se submeter a passar o resto da vida dançando em boates ou servindo drinks, uma clandestina no planeta Terra tem que se submeter a muita coisa. Não dá pra simplesmente cansar e voltar, minha gente. Tem que prosseguir com o que se conseguiu.

Mas antes de eu viajar não lembro de terem me dito como as pessoas por aqui são complicadas. Ou fui eu quem deletei essa informação da minha memória pela vontade de mergulhar por aqui?