domingo, novembro 04, 2012

As cartas que eu não mando

Querida amiga,

Ainda posso chamá-la assim, "amiga". Sei que posso, pois assim a tenho ainda na conta de dentro de mim. Os anos podem até passar. E a gente vai mudando, pro bem e pro mal também, infelizmente. Mas tem coisas que ficam, se instalam, e as mágoas viram pequenas, bobas, esquecíveis. Amor, carinho, desejo de felicidade, amizade!

Você que gosta de mandar cartas, li tantas delas por esses dias. Sei que não perdeu essa mania, seu noivo me disse que tinha também uma caixa delas! Revirar o quarto tem um tanto de revirar lembranças. Fotos, cartões, telegramas, recados, pedacinhos de papel, bloquinhos de anotação... e elas, as cartas. Lembro do seu baú cheio delas. E de receber uma sua quase toda semana e assim começar a formar minha própria coleção. Em um tempo em que nós éramos só sonhos, esperas e esperanças. Em um tempo de mudanças, transições, amores incertos, corações medrosos. Em um tempo em que cada conquista e cada derrota era sentida com muita intensidade! Um tempo de conselhos mútuos e de uma amizade que fazia chorar e sorrir, sempre de felicidade e cumplicidade. Ler uma cartinha é reviver, não é?

Lembranças... Não acreditei quando você disse que nunca tinha assistido Dirty Dancing. A gente alugou o DVD e chorou vendo o Patrick Swayze e a Baby se apaixonando. Comendo pipoca e pão de queijo com brigadeiro. Eu achava essa comida meio doida, mas gostei. Gordinhas gostam de tudo que engorda, impressionante! Depois a gente ficava conversando e brincando com as cachorrinhas. Minha mãe ligava e mandava eu voltar para casa. Eu me formei, comprei meu carro e sentia que a vida começava a mudar! Buzinava lá de baixo, a gente reunia todo mundo e ia para a praia! Eu nem gostava muito de praia, você me fez enxergar a beleza do  mar. Hoje eu e ele somos amigos e cúmplices.

Você tinha uma mania de trocar tudo, emprestar as coisas e pegar outras emprestadas. Era uma coisa que me fazia sentir mais de casa. Emprestava livro, colar, brinco, CD. Tenho aqui um bracelete seu, prateado, todo trabalhadinho. Você às vezes lembra dele e se pergunta onde é que foi parar? Agora já sabe: está aqui. Mas não irei devolver, fica assim como está. Você só vai se lembrar quando pensar em usá-lo. Tinha também um CD do Lulu Santos. Demorei a devolver! Aliás, era seu? Não lembro, mas ouvimos muito esse CD! Ainda lembro de você ao escutar Lulu Santos e Los Hermanos. Era tão você!

Você lembra? Quando quem eu achava ser meu amigo me virou as costas? Não lembro o motivo, mas chorei e sofri tanto! Éramos adolescentes e essa fase da vida deixa a gente intensa. Mas você estava comigo! E isso foi uma prova de amizade e carinho. Eu não passaria por aquilo sozinha e a gente sente a providência de Deus quando ele nos manda gente para nos proteger. Em resposta a gente tenta também protege quem serve de anjo para nós. E eu nunca agradeci... Nunca é tarde: obrigada! Os sábados no Dragão do Mar, os cinemas, as andanças, as praias, as viagens, as confidências, presentinhos, as cartas, as peças de teatro, cafés, lanchinhos, risadas, andanças... Obrigada!

Minha amiga, é bonito ver como você amadureceu. Talvez eu mesma não tenha crescido tanto (não sei, acho que estou mais medrosa e menos esperançosa, mas também cresci em alguns pontos. Fica pra depois.). É triste ver que estive distante e você esteve distante e, enfim, nós crescemos. Mas crescer tem um quê de dificuldade mas uma parte tao boa de alegria, de conquistas. E você vai se casar, que coisa linda. Tenho certeza que irei chorar tanto na cerimônia! Você que tinha tanto medo de ser feliz! Eu dizia: vai ser feliz! Ainda bem que você foi, seguiu, andou, enfrentou, construiu uma estrada linda de tijolos firmes, brilhosos! E terá uma linda família e filhos de olhos grandes e sinceros, como os seus!

Desejo pés na areia, caminhos floridos, sorrisos, sentimentos, docinhos, coragem, viagens, amizades, amor, muito amor.

Guarde mais essa cartinha., por favor. Já que ela é virtual, guarde no coração.

Um grande beijo!


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