sexta-feira, novembro 07, 2008

Contos bobos 1


Era uma vez uma mão vazia que pintava o céu. Pintava o infinito, metia as mãos da tinta e saía dando vida às coisas nos papéis que chegavam. Era sol, era gente, era bicho, era flor. Era giz-de-cera, canetinha, tinta melada na ponta dos dedos. Era cheia de cor, mas se achava vazia. De que adiantava, né, pintar e não ganhar nada por isso. Só alegria basta? Ela ouviu falar que se por ali passasse dinheiro, uau, ela iria pintar mais e melhor. E quem não quer melhorar? Foi a partir daí que ela, que amava se ver manchada, quis mudar. Porque se cortassem as unhas dela, oh God, ia ser a glória. Porque se pintassem e lichassem como deveriam fazer com toda mão decente, aí sim, isso seria vida. quem acha mão suja bonita, né? E se ela pegasse mais em dinheiro, em cartão de crédito, se dirigisse um volante de carro novinho, se vestisse luvas finas, ela seria afinal feliz. Aí ela começou a desenhar coisas sem cores, de grafite, planos chatos de arquitetos. Longe das estrelas e das cores. Aí quando menos esperou, haja dinheiro! Nossa, ela desenhava casas, gente. Meio chato, adquiriu uma LER com o tempo, mas, vá: era feliz, agora, pôxa. Mas faltava... faltava... ela não sabia mais o quê. De repente desenhar coisas com grafite não era a melhor coisa do mundo. E ter que usar aquelas réguas todas. Deu saudade das guaches. Dos pinguinhos de tinta que viravam borboletas e das artes loucas que davam vida a um brancão. Aí um dia ela derrubou tinta na casa de grafite (sem querer, ela jura). Aí ela foi com tudo num balde de tinta e desenhou um céu na parede do escritório. Foi a coisa mais feliz que uma mão azul pôde fazer. Aí demitiram ela da empresa e hoje ela vive de desenhar céus nas paredes dos outros. Interessa? Ela cobra baratinho, gente. Também, quem mandou querer ser independente? Sobraram as prestações do cartão de crédito. Bolas!

"Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver daonde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
e os meus passos
Nunca mais serão iguais

Se for mais veloz que a luz
Então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás
Perdida num planeta abandonado
Pelo espaço
E volto sem olhar pra trás
No escuro do céu
Mais longe que o sol
..."

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