quinta-feira, março 18, 2010

Fazendo troça com a dor.




Eu numa fossa fenomenal, naquela fase do onde foi que eu errei, naquela fase das mil lembranças, e o que é que eu faço? O que eu faço, minha gente? Ouço músicas que me trazem mais lembranças, aquelas bem ao estilo "se mata". Gravei um CD, minha gente, um CD com músicas ao estilo "Creep", do Radiohead. "I wish I was special/ u so very special/ But I'm a creeeeeeeeeeeeep /I'm a weirdoooooooooooo/ What the hell am I doing here?/ I don't belong here". Pra quem não sabe inglês, o eu-lírico basicamente se auto-esculhamba, se acha um verme, um esquisito. E eu coloquei no volume máximo no meu carro e vim pro trabalho cantando loucamente. Legal, né, como as pessoas se valorizam?

Mas eu me sinto exagerada. Se é pra sofrer, vamo sofrer. Quero alugar um filme bem triste para chorar horrores, todas as lágrimas que puder. Quero passar um tempo curtindo a fossa, ouvindo todas as músicas que me fazem lembrar, lembrar, lembrar.

É que eu sou louca? É que eu sou masoquista? Não descarto nenhuma das duas possibilidades. Mas eu acho que a gente tem que aproveitar todos os momentos, até os de fossa. Eu sempre saio mais forte depois, ainda que por enquanto eu não acredite muito nessa possibilidade e me sinta a creep, a weirdo.

Sempre que se leva um "não", sempre que se é magoada, sempre que lhe querem fazer acreditar que você não é nem nunca foi especial, você logo acredita. Você não quer se lembrar das vezes que ele te disse não, das vezes que ele te deixou esperando, das palavras duras dele. Nem muito menos da parte em que ele te dispensou sem nem mesmo olhar dentro dos seus olhos.

Você se lembra dos carinhos, das besteiras, das palavras de amor trocadas, das juras melosas de gente apaixonada, das poesias que você mandou, das poesias que você fez e mandou, de como você achava que ele combinava com você, de como ele era compreensivo e gentil. Mesmo que todos os seus amigos e parentes te mostrem todos os fatos e queiram te convencer de que ele não era tão bom assim. Você não consegue, você pensa com carinho.

É como se você estivesse com um terreno limpo dentro de si. Aí vem alguém e traz coisas para contruir nesse terreno. Te dá tijolo, te dá cimento. E você vai construindo, construindo. E, embora faltem muitas coisas pra terminar a casa, você já tem todo o projeto bem desenhadinho, você sabe como vai construir, onde vai ser o quarto, a sala de estar... Aí de repente a pessoa que te ajudava a construir some e te deixa lá com aquela obra inacabada e, agora, inútil. Aí você tem que destruir tudo, limpar o terreno todo de novo. E tinha dado tanto trabalhar pra demolir a construção anterior. Você tinha tanta fé de que agora tinha encontrado o projeto certo para o seu abrigo. Mas nem tinha, então dá-lhe trabalho de novo. Lá vai você arregaçar as mangas, pedir a ajuda dos tratores alheios pra destruir de novo aquela obra, limpar tudinho até ter material pra construir um projeto novo.

Mas, o mundo é grande, minha gente. Tem muita possibilidade por aí para se ser feliz. Tem muita gente com material sobrando pra te ajudar a construir tudo de novo, dentro de você. Tenho fé de que vou passar da fase "ele vai voltar" e "I'm a creep" para a "tenha fé em Deus, tenha fé na vida".

Mas por enquanto, enquanto a ferida é tão recente, enquanto as lágrimas jorram como na cachoeira do açude do Capão, "tire o seu piercing do caminho que eu quero passar, quero passar com a minha dor", como diria Zeca Baleiro.

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