Quando nasci, uma médica pequena disse:
Ela tem um defeito incurável.
Era apenas uma orelha amassada
Mas legitimou o corolário de defeitos
(que eu me recuso a curar)
e que me acompanham por toda uma vida.
As casas de Guaramiranga estão mais coloridas
O fôlego curto, mais comprido
As nuvens continuam de algodão
Mas o céu tem ficado menos azul
Já participo de rodas de conversa;
não sou tão inteligente que possa ter opinião sempre
nem tão burra que saiba o tempo todo sobre tudo
Mas pelo sim e pelo não, às vezes prefiro calar.
A mulher por trás dos óculos coloridos
Costuma sorrir e evitar olhares
Diz que fala sem problemas
Mas tem uma timidez incurável
Se o mundo fosse vasto, eu estaria caminhando
Mas o mundo é pequeno, ridículo e minúsculo
E eu sou pequena, ridícula e minúscula;
Eu mereço o mundo e ele ama me contrariar.
Eu não deveria terminar aqui.
Mas é melhor não desnudar uma alma que treme
Transpor os limites da sinceridade
É tão perigoso que não tem volta.
(escrevi esse poema muito imperfeito e muito amador após ler "Poema de sete faces", de Carlos Drummond de Andrade e "Com Licença Poética", de Adélia Prado).
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