domingo, maio 03, 2015

Sobre homens truculentos ou sobre pessoas que se negam a sentir.

Eu tenho alguém que foi muito caro há alguns meses. Ainda é, acredite, mas não me faz mais falta. Assustava pensar que seria como outros que passaram na minha vida: daqui a pouco esqueceria seu rosto e as pequenas coisas que me faziam sorrir. Eu sempre me apaixono pelas pequenas coisas. (É que outro dia eu estava no banco pagando contas e vi um ex-namorado de há 3 mil anos atrás e pensei: será que é ele mesmo? Eu esqueci o rosto. Os detalhes. A voz. Fiquei tão reflexiva, pensando como a importância vira desimportante.).

Mas já cheguei à conclusão de que as pessoas passam na minha vida com um objetivo. Se somem depois, o que se há de fazer? Guardar o que aprendi e seguir. Eu tenho guardado as coisas certas, acho. O que não quer dizer que não passe um tempo guardando umas quinquilharias, tem muitas miudezas inúteis destruindo uma parte boa de mim. Mas nem é sobre isso que quero falar.

É que vi uma foto. A gente faz dessas, às vezes: vai ver se a pessoa tá bem. Se ela tá sorrindo. Se os problemas passaram. Não é saudável, quase nunca. (Inclusive, não recomendo). Mas foi daí que me veio uma reflexão que não se restringe a essa pessoa específica. Eu fiquei pensando em como as pessoas sensíveis podem se esconder atrás da truculência. Pelo medo de serem julgadas. Pelo local onde trabalham. Pela família. Pelas pessoas/amizades com quem convivem.

Os homens são tão vítimas disso que chego a sentir piedade. Tenho conversado sobre isso com tanta gente. E nem sou eu que puxo o assunto, eles só vêm. Há alguns dias, um amigo disse que teve que aprender desde criança que não podia ter sentimentos, como sentir medo, porque era homem. Meninas podem sentir medo e serem consoladas. Meninos, nem tanto. Ontem vi um filme com um personagem representando aquele pior tipo de homem: o que olha para os lados procurando mulheres, como se procura carne em rodízio. Argh. Um amigo que via o filme comigo disse: não sou assim, mas ninguém precisa ficar sabendo. Porque os homens são sempre julgados pelo grau de macheza. E isso esconde o grau de humanidade das pessoas. E isso é muito, muito triste.

Um dia me apaixonei por esse cara do começo do texto.  Eu gostava quando ele falava de música. Quando ele revelava assim sem querer uns traços do coração. Quando ele sentia pena dos alunos. E quando queria muito fortemente que cada um deles crescesse na vida. Quando tinha muito carinho pelos animais. Eu achava bonito como ele cuidava dos pais. Ele chorava nas cenas tristes dos filmes. Ele gostava de ficar apenas abraçado comigo por longas horas. Ele era um cara legal. Mas na maior parte do tempo ele tentava ser um macho. Um truculento. Um cara que não ligava pra sentimentos. Um insensível. Aquele cara que não quer sentir nada. Aquele cara que parece estar sempre tentando provar pros outros que não está nem aí pra nada. Que não quer parecer fraco, entende? Isso é tão nocivo. Era pra mim. E pra ele mais ainda. Porque no fim das contas ele é uma pessoa bonita. E eu não me importaria em lidar com a fraqueza. Eu, que tenho tantas fraquezas. Somos humanos, enfim.

Quantas pessoas bonitas estão se escondendo atrás de máscaras horrendas? Quantas pessoas sensíveis estão com medo de se machucarem e serem julgadas? A vida machuca mesmo. Eu mesma estou cheia de cicatrizes. Não é fácil. Mas ando arriscando. Não tenho conselhos. Não tenho advertências, nem pedidos. Só prometo quando tiver um filho, um dia, quem sabe, ensiná-lo que sentir não é vergonha nenhuma. É sinal de humanidade.

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