sexta-feira, fevereiro 27, 2015

Sentimentos de dias tão iguais ou O Hoje que ainda é Ontem.

O Sol tímido por trás das nuvens. A rua meio molhada, meio suja. Os pombos todos empoleirados no fio antiestético de telefone acima dos muros das casas duplex do bairro. O pedreiro sentado no monte de areia da construção ao lado do único duplex simpático que restou na rua, olhando o pouco movimento do bairro no comecinho da manhã. Saio rápido, tenho medo de ladrões tomarem meu carro de assalto. Meu carro sem retrovisor. Meu carro com vidros travados há 5 meses. Meu carro com problemas elétricos. Meu carro cheio de lixo e memórias.

Fica a dúvida: hoje é ontem? Porque em frente à padaria tinha fila para o pão e eu observei isso enquanto punha os óculos escuros com um mão e segurava a direção com a outra. Igual a ontem. E na parada de ônibus os mesmo estudantes, os mesmos velhinhos. A moça com a mochila verde-bandeira. O carro 4x4 com uma das janelas abertas e um cachorrinho de língua pra fora fecha o cruzamento, exatamente igual a ontem. As horas estão passando? Corre o risco de eu estar vivendo o mesmo dia várias vezes, como nas ficções?

Hoje é ontem? Porque ainda estou sentindo aquilo estranho, aqui. Ainda estou me reacostumando. Ainda estou juntando cacos a cada segundo. Ainda estou com vontade de destruir meu amor próprio. Ainda estou revendo na memória cada minuto dos últimos meses. Ainda estou recapitulando as palavras do meu analista. Ainda estou pensando em porque não lavei os cabelos de novo.

E se hoje ainda for ontem, posso tentar mudar o que passou? Vou atrapalhar o fluxo do tempo? Acidentes vão acontecer por minha causa? E se eu lavar os cabelos?

Nenhum comentário: