terça-feira, janeiro 27, 2015

Hoje tô Caetano.

Ah, bruta flor do querer!
 
"Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim"

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Vou fazer cena, amor

Deixe de drama
A vida não é uma novela mexicana
Deixe de drama 
A vida cabe nessa janela
A vida cabe nessa cama
A vida vale um sussurro 
Um beijo
Um suspiro.
Lamento não vale a pena
Incomoda?
Vomita tudo num poema
Ouve a caixa de música tocando Bach
Aproveita a tarde vendo o mar
(E esquece isso de amar 
Essa doença-amar
Isso que te deixa sensível como o diabo.)
É assim. Acabo. 

Semipoesia

Eu fiz um poema
Que de tão ruim, é impublicável 
Que de tão piegas, dá gastura
Que de tão enjoado, dá vergonha 
Que de tão sensível, é abominável.
Eu fiz um poema torto.
Natimorto.