quarta-feira, fevereiro 25, 2009

O amor.


Era noite e fazia frio. A trupe viajava novamente. Outra apresentação, novos olhares e os poucos aplausos de sempre. E eles viajavam, cansados, exaustos, realmente. Daquela vez a apresentação havia sido longe, muito longe. A cidadezinha era tão pequena, ninguém daria nada por ela. Exceto quando a noite chegava. Via-se no céu o brilho mais lindo. Ela olhou para cima e viu no céu as estrelas brilhando mais forte do que jamais havia visto, em anos de estrada, em anos de circo. Vinham todos sentados naquele ônibus empoeirado, carregado de equipamentos, roupas, coisas. E ele estava bem ali, ao lado dela. Mas ela não podia, não conseguia olhar para o lado. Em parte por causa da timidez, em parte poor causa do magnetismo das estrelas e em parte por que não representava ninguém naquele momento: era ela e somente ela, sem máscaras, pinturas, cores ou personagens. E isso era difícil, principalmente quando se sentia esse bem-querer, esse quase amar... Será que ela resistiria ver tanta coisa bela ao mesmo tempo? O certo é que todos os pensamentos foram aos poucos se embaralhando na mente. E as estrelas e o amor e ele ali ao seu lado e as estrelas e a estrada... A cabeça dela foi tombando lentamente no ombro dele. Ele mal respirava para não acordá-la, ela podia sentir o desconforto. O ônibus deu um sopapo. Ela tomou quase um susto, mas ele segurou-a carinhosamente, passou o braço pelas costas dela e a aconchegou. Ela ouviu um sussurro: "calma, pode dormir, eu protejo seu sono". Ela não dormiu o resto da viagem, mas também não ousou abrir os olhos. E foi a primeira vez que ela descobriu o amor.

"Um dia/ Posso até pagar por isso/
O impossível é meu mais antigo vício/
Ou então/ Um delírio do meu coração/
Que vê as coisas/ Onde as coisas não estão"

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Roda-gigante


Eu vivo falando de lembranças nesse meu blog. Mas é que as coisas mudam tão rápido. O tempo passa tão rápido... E me dá uma saudade, sabe?

Olha que coisa estúpida: reparei que tenho um orkut desde 2005 e dei uma olhada nos meus 6.651 recados. Nós estamos em 2009, gente. E eu vi os meus melhores amigos de 2005, aqueles que comecei a conhecer na faculdade, aqueles de que me afastei depois, ou que a vida foi me afastando lentamente. E as situações de 2006, 2007, 2008. E pensar que em 3, 4 anos as pessoas que acabaram de entrar na faculdade e se conhecer já vão saindo da faculdade e se vendo menos. E acabam os encontros marcados para fazer trabalhos, jornaizinhos comunitários, jornadas duras (e divertidas) de estagiários. De repente a preocupação passa de falta estágio para excesso de estágio. Depois passa para falta de monografia. Depois passa para falta de emprego e logo em seguida para falta de dinheiro. Depois vira falta de perspectiva. E você se vê conversando com dezenas de pessoas formadas. Mas você mal tinha entrado na faculdade!

E as pessoas que você achou que jamais iam casar, casam. E aquelas que até pouco tempo dividiam preocupações amorosas com você de repente já têm filhos! Algumas viajam, algumas fazem mestrado, algumas fazem doutorado. Algumas pegaram abuso de você em algum momento e você nem teve a oportunidade de descobrir o porquê. Algumas outras que choraram tanto e que você tanto consolou simplesmente somem. E algumas, embora distantes, você acha engraçado e bonito como fez parte de determinadas mudanças sem perceber.

Eu já sabia, mas de repente me toquei que faço alemão há exatos 4 anos e não falo nada. E morro de saudade da cultura e das minhas turmas e dos meus amigos e da nossa preocupação com as provas orais und die Bücher, usw... E o inglês? Foram 4 anos e eu terminei! E era tão legal comer pipoca doce misturada com salgada depois de sair de uma tarde de aulas na faculdade e me divertir naquela salas da CCB com aqueles poucos alunos que não eram da medicina! E eu lembro de ficar reclamando das turminhas da medicina da UFC que não pisavam no chão, e de rir with friends quando o livro de inglês fazia a gente ouvir músicas do tempo do ronca.

Em alguns poucos anos você conhece tantas pessoas e tantas pessoas te conhecem. Eu vi como me aproximei de pessoas distantes que depois viraram conhecidas e depois viraram melhores amigas. Eu me vi me apaixonar várias vezes e depois desapaixonar. Eu me vi ser magoada e depois cruelmente querer magoar. Eu vi determinadas relações de determinadas pessoas mudando tanto... E se blog não fosse algo tão público eu poderia mesmo contar cada história amorosa ou de amizade e todas as mudanças que eu nunca achei que fossem possíveis de acontecer, acontecendo.

E de repente eu penso: se tudo mudou tão rápido e drasticamente em tão pouco tempo, o que vai mudar nos próximos 4 anos? E o que mudou nos últimos 100, 200, mil anos em mim, na minha vida, nas minhas relações? Tudo muda tão rápido e você repentinamente se pergunta: quem está no controle? Porque embora você contribua para as mudanças, nada está plenamente nas suas mãos. E o pior: você não pode sentar para chorar. Você não pode sentar um pouquinho e pedir para parar a roda gigante por um segundo porque está sentindo vertigem. E o melhor: você ainda pode guardar umas saudades pra lembrar dos tempos bons. E pode aproveitar a roda gigante que não pára para sentir o ventinho no rosto, de vez em quando. Ou de vez em sempre.

(Saudade pode doer. Mas sem saudade, nem lembrança, o que seria de mim?)

"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim..."

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Porque perto da linha do equador dia de chuva é que é bonito :)


It's raining, man! Aleluia!
It's raining, man! Amem!


Pequeno poema de após chuva:
"Frescor agradecido de capim molhado
Como alguém que chorou
E depois sentiu uma grande,
Uma quase envergonhada alegria
Por ter a vida
continuado ..."

Mario Quintana